Pequenos faturam com comida congelada, mas com 'cara' de caseira e receitas saudáveis

Setor cresceu 16% no ano passado e movimentou R$ 2,3 bilhões, segundo a Kantar Worldpanel

Esqueça aquela história de que alimento congelado não é saudável nem gostoso. As pequenas e médias empresas que apostam nesse segmento buscam se diferenciar com pratos saborosos e com jeito de comida caseira para fugir da briga com os grandes fabricantes. Os empreendedores também estão de olho em um mercado que movimentou R$ 2,3 bilhões no ano passado, 16% a mais que o ano anterior, de acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado Kantar Worldpanel.

No Brasil, os congelados estão presentes em sete de cada dez lares. “O congelado sempre teve uma barreira de entrada nas casas das pessoas. Elas tinham a impressão que o sabor não era bom, ou não tinham o hábito de consumo. Aos poucos essa barreira tem sido quebrada. O principal apelo é realmente a praticidade”, afirma Aurélia Vicente, gestora de contas da categoria congelados da Kantar Worldpanel.

De acordo com Aurélia, as oportunidades estão não só em colocar o congelado na casa das pessoas, mas fazer com que elas comprem uma variedade maior de opções. E para os pequenos negócios, oferecer produtos mais saudáveis é um caminho, assim como investir na oferta de sabores. Outra recomendação da gestora é ficar atento ao tamanho das porções vendidas. “Hoje as pessoas não têm muito espaço no congelador”, observa.

Para o professor Maurício Lopes, do curso de gastronomia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, quem investir nos congelados precisa se preocupar em investir em testes com novos produtos. “Os congelados precisam ter boa apresentação e o empresário precisa eliminar o sabor artificial”, diz.

A empresária Dyléa Gaspar Barros enxergou há 29 anos uma oportunidade no setor. Ela começou a produção com um fogão, dois freezers, uma cozinheira e mais uma ajudante. Hoje, comanda uma empresa com 40 funcionários que produzem mais de 250 pratos diferentes com as marcas Bóia Fria e Via Gurmê. Em média, a produção diária chega a 3 mil pratos.

“O que fez a gente permanecer no mercado foi a preocupação com a segurança alimentar, qualidade e preservação do sabor caseiro”, diz. Entre as dificuldades do negócio estão o custo da matéria-prima e a sazonalidade dos alimentos. “Se pegamos a sazonalidade de uma matéria-prima importante não tem como repassar o aumento. Trabalhamos com uma tabela anual. Às vezes, tiramos o produto de linha até (os preços) voltarem ao normal, senão o custo inviabiliza a produção”, pontua Dyléa.

Na casa da família Hage, o cardápio incluía só comida árabe. Mas quando o patriarca teve um problema de saúde e precisou tirar a carne da alimentação, as mulheres da família começaram a produzir receitas típicas, só que com carne de soja e cereais integrais. Foi o início da Hage Alimentos.

A empresa é administrada pelas irmãs Claudia e Paula Hage, que não tem planos ambiciosos. A intenção da dupla é manter a produção artesanal, que registra faturamento médio mensal de R$ 25 mil e vendas em 60 pontos em São Paulo.

Manter o preparo artesanal também é o objetivo do empresário Sérgio Bassotti. Ele é dono do Rei do Mocotó, um restaurante em Porto Alegre, que passou a vender os pratos congelados no local e em redes de supermercado da região Sul. “Somos uma empresa pequena que mantém a qualidade em primeiro lugar”, afirma. Além do mocotó, ele diversificou a produção com o preparo de dobradinha, feijoada, lentilha e capelete. Todos vendidos congelados para agradar quem busca praticidade.

Precursores. Na década de 50, Manoel Correa de Souza Filho era dono de uma padaria tradicional em São Paulo. Depois de uma viagem para o exterior, ele resolveu investir em uma indústria para começar a fabricar o primeiro pão industrializado, o pão de forma, dando origem à Pullman. O negócio foi vendido em 1995, mas o empresário e seu filho, Manoel Correa de Souza Neto não deixaram a panificação de lado e investiram nos pães congelados. Fundaram assim a Brico.

“O pão congelado estava começando a surgir na Europa. O nosso negócio era fazer pão mesmo. Então, eu e ele fizemos essa fabrica com pão congelado que era novidade aqui”, diz Neto. A empresa fabrica em torno de 20 mil toneladas do produto por ano. Hoje, o segmento corporativo representa 70% do faturamento, mas a empresa tem planos de aumentar a venda direta para o consumidor.

:: Praticidade é o principal atrativo ::

Mas não é só isso. Empresa precisa se preocupar em oferecer qualidade e sabor para ganhar confiança do consumidor

Degustação
Para conquistar o consumidor desconfiado da qualidade do congelado, promova degustações no ponto de venda e aproveite para conversar com o cliente e colher opiniões para melhorar o produto vendido.

Oferta 
Os congelados estão presentes em 77% dos lares brasileiros, mas apenas os empanados e os hambúrgueres atingem 50% das casas. A oportunidade para as pequenas está em inovar com novos pratos e sabores.

Saudável
Empresas investem no preparo caseiro e lançam linhas light, com ingredientes saudáveis, menos gordura e sal. Existem linhas específicas para dietas.

Apresentação
O empresário também precisa se preocupar com a apresentação do prato, desde a embalagem para atrair o consumidor até como a comida será apresentada no prato.

Tamanho
Levando em consideração que as pessoas têm menos espaço para armazenar a comida, a empresa precisa pensar no tamanho das embalagens e na praticidade.

Muscle Bistrot. Gustavo, Fernando e Marcos focaram no público de academia, mas ganharam outros clientes


Eduardo Dimand e Pedro Pandolpho são sócios da Pronto Light

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